Tempus fugit, memoria nostrum
Onde estereótipos não têm vez, quanto menos censura do bem (fascismo).
Passava das onze da noite no Brasil, meio da semana. Fosse um bar qualquer da Matrix e todos estariam abraçados, homens e mulheres cantando a plenos pulmões, espirrando cerveja uns nos outros, gargalhando a pés de ouvidos, todos descalços, moedas de um, cinco, dez centavos à guisa de confetes e serpentinas laminadas faiscando pelo salão contra lasers e globos de plasma, avestruzes por plebeus enaltecidos zanzando de lado a lado, plumas lilases em revoada, várias, várias plumas e mais moedas, quatro ou seis pescoçudos discutindo o futuro da economia no canto quase em penumbra do pub, da npub para ser exato, cada qual com a sua.
Não exatamente o que se poderia esperar – ou se imaginaria – de um reduto de Incels extremistas, terroristas da palavra, conforme recém-pintados pelo FBI aqueles que porventura se valham, e se valem, de termos quais “based”, “chad” ou “red-pilled” (orange-pilled, nesse caso, ou purple-pilled), dignos de serem monitorados – às custas dos pagadores de impostos, os próprios (talvez não) – pelo bureau. A começar por Jack Dorsey, ex-CEO e fundador do Twitter, quem puxava o cordão de afagos. “Caramba, o povo do Politico vai ficar tipo WTF”, e mais um emoji de abraço entre uma enxurrada.
Jack se referia a Ben Schreckinger, jornalista do portal norte-americano Politico, quem dias antes se apresentara a Dorsey em mensagem privada. Não obtendo resposta, resolveu cutucar o bilionário publicamente nos comentários de uma nota (e não postagem, justo o teor da nota em questão). “Podemos fazer a entrevista aqui mesmo, não por mensagem privada. Entrevista aberta”, ponderou Jack. Três perguntas sucintas, respondidas de igual modo. A última, sobre o fato de quase todos ali serem primordialmente bitcoiners. “Eles tendem a ser mais focados na construção de ferramentas que permitam uma autodeterminação maior. Mas acho que há outros nichos que você não tem percebido por não estar nos respectivos relays”. Seria o segundo artigo de Ben sobre o Nostr. Já estava, portanto, acostumado com o patoá. A novidade do dia eram os abraços. Tão logo deu as caras, Ben seguiu à risca o script: “WTF”. Jack arrematou, não antes de enviar outro emoji: “Conforme previsto”.
Nostr é acrônimo para “Notes and Other Stuff Transmitted by Relays”. Os tais “relays”, ou retransmissores, são nós que propagam as transações pela rede sem o imperativo de uma autoridade central, o que garante a privacidade de dados e o controle do usuário. Diferentes relays são agrupados em determinadas categorias, permitindo o acesso a conteúdos específicos com mais facilidade. Rede social também, descentralizada, mas, sobretudo: protocolo. Aberto e sem permissão. Ou seja: qualquer pessoa pode construir em cima do Nostr, o que rompe os limites – e as restrições – das plataformas de propriedade corporativa. Nenhuma pessoa, empresa ou governo o controla. Em suma: é anticensura. Caso caia um relay, sempre haverá outro. E tudo no mais pleno anonimato. Os usuários são identificados por meio de um simples par de chaves pública-privada geradas por eles mesmos. As npubs. E as nsecs.
Em dezembro de 2022, a comunidade Nostr (pois não há quem por ele responda e todos desenvolvem seu ecossistema) recebeu de Jack uma doação de quatorze Bitcoins, cerca de dois milhões de reais na cotação atual, o que voltou os holofotes ao protocolo. Desde então, o crescimento foi exponencial. Vieram os primeiros clientes e, junto, os usuários, a plebe rude. Hoje, dá para se falar em uma segunda onda de “povoamento”, a começar por familiares de quem já estava lá. Os pais de Jack, inclusive, recém-chegados e mui bem acolhidos. O engajar-se é total. Tem guia e tudo.
Do embrião aos primeiros desbravadores foi uma longa e discreta jornada. O anúncio de Jack, que se deu em dezembro de 2019, precedeu a torrente de banimentos e suspenções na esteira da pandemia e das eleições presidenciais norte-americanas de 2020. Presságio ou conhecimento de causa? “O Twitter está financiando uma pequena equipe independente de arquitetos, engenheiros e designers open source para desenvolver um padrão aberto e decentralizado de mídia social. O objetivo é que o Twitter acabe sendo cliente desse padrão”, declarou à época. Jack, no entanto, falava sobre o Bluesky, lançado no começo do ano, ainda em versão beta e apenas para convidados, quase que concomitante ao Nostr. Na teoria, Jack segue ligado ao Bluesky, ora desvencilhado do Twitter. Sua última postagem na rede, todavia, foi há longínquos dois meses. No Nostr, suas notas são diárias.
Quando comentei sobre o Nostr em público, em sala de aula, de pronto questionaram: mas e o Mastodon? A primeira coisa que aparece quando o usuário se inscreve em uma federação, em um servidor Mastodon, são as regras da casa. Variam pouca coisa de servidor para servidor. Todo o conteúdo produzido, os próprios perfis, pertencem a quem executa o servidor. Descentralizado sim, embora passível de censura. Os usuários do Bluesky, por sua vez, valem-se dos DIDs, identificadores descentralizados que garantem o controle individual sobre informações pessoais, mas ainda é cedo para se falar em anticensura. Os algoritmos estão todos lá na timeline. Talvez só mais uma variação. A ver. Tempus fugit. Inocência, por outro lado, pensar no Nostr como só mais uma rede social. Semelhante a todo dia ameaçar sair do Twitter no próprio Twitter.
Já são mais de cem projetos (hospedados só no Github) construídos em cima do protocolo. Dos aplicativos Damus no iOS e Amethyst no Android (de autoria do dev brasileiro Vitor Pamplona), ou os servidores web snort.social e Iris, por onde tudo começa para o usuário comum, à Exchange P2P Mostro a quem se interessa em operar seus Bitcoins de modo anônimo e direto com outros usuários, passando pela transmissora de áudio Nostr Nests e seus tantos programas produzidos por membros da rede, seja um talk show a exemplo da Plebchain Radio, do Bitcoin Lobby e do Frog Talk, ou playlists ao vivo como a Intuitive Sound Radio. A próxima grande novidade promete ser o Highlighter, cujo conteúdo tem curadoria personalizada. Ou o Coracle. Em última análise, ao que parece, o maior trunfo do Nostr é mesmo sua comunidade.
Comunidade que já se reuniu pessoalmente, ou parte significativa dela, na primeira Inconferência Nostrica, realizada em março na Costa Rica, porto seguro de Jack e de onde os “nostriches”, trocadilhotrocadilho (criado pela IA Dave) entre Nostr e ostrich, avestruz em inglês e mascote do protocolo, tiraram seu mote: Pura Vida, expressão da ilha mezzo caribenha com plurissignificados, desde “bom dia” a “obrigado”, good vibes que sejam. A próxima Inconferência, Nostrasia, acontecerá tanto em Tóquio quanto em Hong Kong na primeira semana de novembro.
Na programação, temas corriqueiros na rede como a monetização de conteúdo por meio da Lightning Network em que usuários enviam Zaps (transações instantâneas de Sats, a menor fração possível do Bitcoin) uns aos outros, maneira simples e prática de recompensar criadores por seu trabalho. “Literalmente um centavo por seus pensamentos”, como bem lembrou o bitcoiner HODL. Por vezes, bem mais. De tempo em tempo, para testar os limites da Lightning, os usuários se lançam no que batizaram de #Zapathon, maratona de Zaps em que o objetivo é “zapear” uns aos outros o máximo possível na janela de uma hora. Jack externou seu desejo em nota: “Espero que, algum dia, reposts e zaps substituam a necessidade de likes.” E de pronto o realizou William Casarin, dev do Damus, o que os demais tiveram de seguir por clamor popular. Hashtag devidamente criada: #OnlyZaps, considerada classista por uns – nada que tenha durado mais que 24h.
Ao cabo do dia, só querem um pé (literal no caso da enaltada hashtag #footstr) para começar a festa – de abraços, Zaps, memes ou do que seja. O alvoroço não foi pouco, por exemplo, com a falência do Silicon Valley Bank que desencadeou um efeito dominó no setor até chegar ao Crédit Suisse. Momento aguardado havia mais de década por entusiastas das criptomoedas – “shitcoins” de fora, entendendo-se por “shitcoin” qualquer outro token que não o Bitcoin, criado, afinal, como solução para uma nova crise financeira a exemplo de 2008. Mandrik, nostrich cuja bio é “vendia baklava (doce turco) por Bitcoin em 2011”, deu o tom do sentimento geral: “Bitcoin é liberdade, e o inimigo da liberdade é o Estado. Nunca se esqueçam do porquê de estarmos aqui.”
Fato. Muito embora os “no-coiners” estejam aportando. Ainda que com o mesmo espírito. Como a iraniana Roya, que hoje mora em Saint Louis, no Missouri: “Eu nem conhecia nada sobre Bitcoin quando entrei no Nostr. A melhor coisa aqui é que ninguém está nem aí para o que você acredita, só para o quanto você é bacana e autêntico”. Questionada sobre os motivos que a levaram ao Nostr, Roya foi categórica: “Direitos humanos. Governos não são capazes de banir o Nostr”.
Oportuno.
Quanto mais às vésperas da votação do PL das Fake News a toque de caixa, sem a devida discussão com a sociedade – quanto menos após alterações significativas que descaracterizaram por completo a proposta inicial, já capenga –, e com a nova suspensão do Telegram, agora por decisão monocrática de um juiz federal do Espírito Santo. Também em abril: o Ministro Alexandre de Moraes [quem, adendo de 23/05, acaba de ganhar um perfil fake no Nostr] declarou que as plataformas digitais devem ser consideradas empresas de comunicação e responsabilizadas como tais, e o Governo chegou a estudar a possibilidade de pedir o banimento do Twitter caso a empresa não adequasse sua política às regras contra crimes virtuais no território nacional, conforme divulgado pelo colunista do Último Segundo, Daniel Cesar. A voz do povo, afinal, é um perigo. Se em conjunto, descentralizada, então... “trincheiras do extremismo”. Quem produziu zines no século passado conhece essa história de cor e sabe bem a revolução que a internet representou e, pelo visto, ainda representa. Para o desgosto das Danielas e Iuris. Como deixou escapar a âncora da MSNBC: “...controlar exatamente o que as pessoas pensam: esse é o nosso trabalho.” Ainda que através de “fake news” institucionais. Especialidade da casa.
Quis o destino, esse fanfarrão, que o criador do Nostr fosse brasileiro. Um célebre anônimo que responde por Fiatjaf. Timing preciso. Tentei duas abordagens, nenhuma com êxito. À Fortune, Fiatjaf declarou que a motivação para criar o Nostr surgiu após a avalanche de “pessoas sendo banidas [das redes] e pela sensação de que a maioria das vitórias conquistadas em relação à internet contra elites consolidadas vinha sendo contraposta pela Big Tech e pelos governos.” Bitcoiner das antigas, Fiatjaf me fez lembrar de uma entrevista com o chinês Yuk Hui em que o filósofo explicou a razão de ter aprendido a programar: “Exatamente para que eu entendesse melhor esse mundo. É preciso estar disposto a entender esse mundo. Estereótipos não funcionam.”
Programação, no fim, não passa de uma série de problemas que precisam ser resolvidos. O coder se depara com um problema e se põe a pensar em uma solução. Conversinha, ali, não cola. São programadores. Vires in numeris. Dois mais dois é sempre igual a quatro, senão: dá pau na máquina, o processador não roda. Tudo na base de nexos causais, sem margem para arroubos ideológico-partidários. Não basta rotular algo de “fake news”. Há de se explicar o porquê, e a explicação tem de fazer sentido, aceitar contra-argumentos lógicos. Caso refutada, descarta-se a premissa inicial. Aristóteles explica. E quem acompanha o sutor sabe bem que boa parte do que foi tachado de “fake news” nos últimos anos acabou se provando a mais pura verdade. O resto é crime já devidamente tipificado em lei quase nunca posta em prática.
Sem retorno de Fiatjaf [o que veio dias depois da publicação, adendo nosso], resolvi questionar Jack sobre o assunto, entre outros. Nos comentários, evidente. Primeiro, respondeu com um abraço. “Não vou ler tudo isso”, segundos após repostar uma nota de quatro prints, veio em seguida na companhia de mais dois emojis e uma interrogação: “Abraço ou shaka?” Na dúvida, enviei abraço, dei shaka e rebati: “A primeira já seria o suficiente”. A resposta nunca chegou. A pergunta era justo como governos reagiriam aos protocolos descentralizados e sem alguém que respondesse por eles (de novo, literalmente) quais o Nostr. A verdade é que, talvez, não haja mesmo uma resposta. Minutos depois, Fiatjaf deixou um recado involuntário(?) em seu perfil: “Mudar o mundo sem fazer nada é nossa especialidade". Desde sempre.
Em 1985, o historiador anarquista Hakim Bey publicou, em regime de copyleft, o livro TAZ, sigla para “Temporary Autonomous Zone”. Bey evitou de forma deliberada definir um conceito pois a noção seria autoexplicativa quando experimentada na prática. Um possível resumo, portanto, da concepção apresentada em seus escritos seria o de uma área geográfica ou espaço social – hoje, físico ou digital –, temporário e autogerenciado, livre de controle externo e construído com base em ideais de liberdade, cooperação e autodeterminação, onde as pessoas viveriam de acordo com suas próprias regras e valores, sem a intervenção do Estado ou demais autoridades.
Anos mais tarde, em 1994, Bey ponderou que uma zona autônoma poderia ser permanente, uma PAZ. “Aldeias, comunas, comunidades, e até mesmo arcologias e biosferas (ou outras formas de cidades utópicas).” A exemplo da memética Citadela Bitcoin conforme prevista em 2013 por um tal “viajante do tempo de 2025” em postagem, hoje lendária, no Reddit. Um futuro utópico em que a maioria dos governos já não existiria. Se a versão concreta segue meme, a cidadela virtual pode já ser realidade. Portões por ora escancarados para quem quiser entrar.
“Nós somos a contracultura”, bradou Walker V., pai não só da #footstr como da gênese em si, pai de todos os nostriches, da mascote avestruz co-criada com a IA Dave, e que faz par com Carla no canal The Crypto Couple, em entrevista à Plebchain Radio. Artistas plásticos, escritores, cineastas, músicos, a vanguarda mundial sob tantos aspectos, os pioneiros nesse novo Velho Oeste, mais um, que aos poucos vão chegando. Uma comunidade ainda pequena, fato, em formação, onde todos parecem se conhecer ou, no mínimo, estão dispostos a tanto. Vizinhos de rua. Uma cidadezinha do interior que entra em ebulição a cada nova celebridade que pinta por lá, como Sean Ono Lennon (“Valeu, rastão!”) e Matt Taibbi, que abandonou o Twitter como protesto após a empresa ter censurado os links de acesso à Substack, onde o jornalista publica seus textos. Todos se amontoaram no pórtico virtual para recebê-los. E zapeá-los.
O tratamento, porém, sejamos justos, é dispensado a todos, nobres e plebeus. Há um relay só para recepcionar os novatos, com comitê de boas-vindas e tudo. Derek Ross, administrador de sistemas e, para variar, bitcoiner, resumiu bem o espírito da coisa:
“Aqueles de nós que procuram novas pessoas, ajudam a configurar seu perfil, seu endereço Lightning, seu endereço Nostr, que ensinam todas as nuances, são o que faz a diferença. Isso também mostra o quanto crescemos nos últimos meses. Não estou falando de estatísticas de crescimento. Estou falando da comunidade que construímos. Minha nota original no Nostr não recebeu amor nenhum. Sem reações. Sem comentários. Sem abraços. Sem shakas. Zaps ainda nem existiam. Continuem construindo, educando e ajudando. Comunidade é a chave.”
Posso estar redondamente enganado, mas não me pareceu o discurso de um Incel terrorista da extrema-direita neoliberal fascista imbuído de ódio. Sei que, por princípio básico e universal, logo: lugar mais que comum, aguente, não há justiça quando todos são penalizados pelas ações de uns poucos. E que censura nunca foi empregada na história como meio de se combater a disseminação de mentiras. Mentiras, afinal, combatemos com verdades. Verdades, sim, são caladas com censura. Percebe a lógica?
Liberais, anarquistas, cypherpunks, libertários, socialistas e até ancaps, por mais contraditória que seja a etimologia, sempre perceberam bem. Os que se encontram no Nostr, e lá cada ideologia é até bem representada, ainda o parecem perceber. Das patas ao miolo, cada miúdo desse avestruz tem seu lugar e se conecta com o todo. “Não faço parte da esquerda nem parte da direita, eu faço parte da moela”. Cada vez mais, o atual zeitgeist segundo Michael Dilger, criador do Gossip, outro aplicativo cliente do Nostr.
Seguindo pela mesma linha de raciocínio, Mike Brock, desenvolvedor de infraestrutura e pensador ativo da rede, complementa:
“Espero estar errado. Quem não quer viver numa utopia? Mas todo o conhecimento acumulado sobre a natureza humana e dinâmicas de grupo me levam a acreditar que há bastante problema pela frente, social e politicamente. É uma das razões pelas quais sou completamente cético em relação a livros como Sovereign Individual [de William Rees-Mogg e James Dale Davidson] e, mais recente, Network State do Balaji [Srinivasan]. Essas estruturas de sociedade futura são construídas sobre axiomas e suposições sobre a condição humana que não mapeiam a realidade.”
Sendo pragmático: não se trata de concordar ou não com algo. Trata-se do inevitável contra palavras ao vento. De nada adianta ser a favor ou não da proibição de armas. Hoje, qualquer pessoa imprime em 3D uma bazuca ou uma AR-15 em casa com os materiais e códigos certos, de facílimo acesso. Menos pior que sejam vendidas — e registradas? Hoje, o PL das Fake News ou uma súmula do Supremo de nada valem diante de proxies, VPNs e protocolos descentralizados [Adendo, 10/05: cem mil reais por hora? Eu ri. E não foi pouco.]. Goste-se ou não, a verdade é que a verdade não se deixa monopolizar. Tampouco a internet se deixa regularizar. Há toda uma base desse iceberg submersa no oceano. Na ponta do lápis, não se sabe qual rumo tudo há de tomar, embora história não falte para nos conduzir, mas é de se supor que o rumo atual da prosa, do jeito que vai, segue pelo menor dos caminhos. Mesquinho. Fascismo. Quem se pauta pela censura não há de prosperar. Nem será esquecido. Quanto menos perdoado. Deixemos as boas intenções com o diabo.
Pois, como bem definiu Edward Snowden, que chegou ao Nostr quando ainda era tudo mato: "Se uma plataforma é um silo, um protocolo é um rio: ninguém o possui e todos são livres para nadar.” Desde a nascente ao esgoto industrial que deságua no Tietê. Bem-vindos a Zion (outro protocolo, aliás), ao mundo real, ao lado de cá da Matrix.
Do lado de fora do pub, à deriva de costas sobre uma boia, córrego abaixo, anônimo vulgo Padre Kelmonoto (exato), torso coberto com palavras de ordem garranchadas contra o sistema, solta um berro: “Censura esse post aqui, Xandão, cabeça de piroca”. Sumiu para nunca mais. Já sua nota, lá para todo sempre, a posteridade julgará.
Memoria nostrum.
Caco Ishak é escritor, advogado e defensor incondicional da liberdade de expressão pois, bom discípulo de Rosa Luxemburgo, sabe bem que calar a oposição não tem outro nome senão: fascismo. Sua newsletter, sutor, está de volta após hibernação forçada. Pode ser encontrado no Nostr através do NIP-05 ishak@nostrplebs.com ou npub1q5jxvccuds9wmpqhr7p770y4ewqcfr2dehqarm5alhm4hpgvrj6qtm2qhm — na certeza de que a única censura válida é a autocensura. Logo: nem me falem do Google.
A quem se esquece: é proibido proibir. Namastê.
PS [19:30] : O bom senso venceu. Por ora.
PPS [06/05] : Desde a publicação do artigo, Jack Dorsey doou outros dez milhões de dólares para o OpenSats (metade ao Nostr, metade a projetos dirigidos ao Bitcoin) e voltou a publicar com frequência no Bluesky. Estamos de olho e vice-versa, pelo visto.
PPPS [13/05] : Agora, com o apoio de bolsonaristas. Sacramentado está. No fim, ao que parece, o bolsopetismo é real. “Quem irá lutar contra o controle (do Estado/ poder/ patriarcado/bilionários et al) se quem lutava antes ora é quem o cobra?”, escrevi em fevereiro de 2022. Pois bem. A resposta não tarda. Ishak, presente.