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A grande aposta de Sísifo

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A grande aposta de Sísifo

O absurdo como elemento técnico constitutivo da narrativa em meio à consciência do caos por-vir: entre o petrodólar e o ouro negro eurasiático.

caco ishak
Mar 23, 2022
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A grande aposta de Sísifo

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Poema hiperconcreto do autor.

Antes de qualquer coisa, por favor, grave estes nomes: Rosa Luxemburgo, Oscar Wilde, Rubel (não o músico, mas o sociólogo francês Maximilien – quiçá inspiração para os pais do músico), Guy Debord, Hakim Bey, os situacionistas todos, os Provos, os Beats, a fundação Wu Ming, o próprio Marx. Guardou bem? Pois já voltamos a eles.

Muito se falou, durante a pandemia, sobre A Peste, de Albert Camus. Do mesmo Camus, no entanto, pouquíssimo, quase silêncio, nada que eu tenha lido, sobre O Mito de Sísifo. Sobre o loop imposto pelos deuses a Sísifo, herói do absurdo, condenado a rolar sua rocha “até o alto de uma montanha, de onde tornava a cair [...] Pensaram, com certa razão, que não há castigo mais terrível que o trabalho inútil e sem esperança.” Com certa, pas de tout. Pois essencialmente: erraram.

Os deuses – pelo visto – não conheciam Millôr, quem de velhaco sabia: “Desespero, eu aguento. O que me apavora é [justo] essa esperança.” Há quem tache de pessimismo. Há quem considere ser mera consciência. Tudo o que os deuses menos suportam nos mortais, defeito de fábrica, castigo. Daí o erro. Prisioneiro e amotinado, Sísifo conhece de antemão cada passo que dará e, ainda assim, nada pode fazer para impedir seu reset. É livre, todavia, para manter-se vivo. “Há várias maneiras de suicidar-se, uma das quais é a doação total e o esquecimento da própria pessoa”, observa Camus. A não-saída seria o mal da clarividência.

E se nós também pudéssemos prever o futuro, não a partir de superstições astrológicas ou para-raios de mediunidade – tudo muito bem aceito pela sociedade, que o diga William Bonner –, mas com base em instrumentos de navegação técnico-científicos adequados para tanto? A meteorologia nada mais é do que isso, afinal. Cientistas vêm se valendo de fractais para prever desastres naturais. Fractais, frutos matemáticos da teoria do caos e que estão intrinsecamente ligados à proporção áurea, o número irracional Phi, 1.618 – ideal de perfeição encontrada na natureza e perseguida por artistas, presente também na fórmula da Sequência de Fibonacci.

No artigo anterior, Segundo ato, pincelei a máxima “gráficos precedem a narrativa”, licença poética do autor, pintando-a como “lenda urbana”. Chiste interno seria mais apropriado, “Technicals come first” em oposição ao “News come first” da narrativa oficial. Alguns, donos de si, encaram com ironia ­­– de modo geral, quem não entende muito ou quase nada, nada, sobre o assunto. Há, todavia, quem tenha plena consciência de que toda pedra que sobe um dia há de rolar montanha abaixo.

Gilberto Pereira Coelho Junior, vulgo Giba, trader desde 1989 e eleito como a “Melhor Carteira de Ações” do Brasil em 2017, anfitrião do Giro do Dia, garante: “Não existe ironia nenhuma nessa história de ‘technicals come first’.” Para marinheiro de primeira viagem: os elementos técnicos de um gráfico precederiam a narrativa, as notícias, e não o contrário. Não seria uma declaração que faria com que as ações de uma empresa subissem (ou caíssem). A empresa é que deixaria para dar a tal declaração em determinada data pois sabe que as condições de alta (ou baixa) estariam favoráveis. O que, evidente, valeria também para governos, políticos et al, os titulares da narrativa.

Discípulo do matemático pré-renascentista italiano Leonardo de Pisa, vulgo Fibonacci, Giba deixa bem claro seus motivos: “A análise técnica tem esse poder de mostrar as divergências de baixa ou cansaço da alta e início de correções. Você não sabe se vai ser uma correção muito forte a ponto de se pensar em crash, mas mostram-se cansaços. Os Estados Unidos agora vêm ali já com essa sinalização de fim de tendência de alta, entrando em bear market (mercado de baixa). Tendo alguma queda muito forte em gráficos semanais, mensais, você vai percebendo esses índices de força relativa, o IFR, ficando abaixo de 30 – o que mostra a sobrevenda.”

Quem precisa de economistas quando são justamente estes os responsáveis pela narrativa, pelo economiquês que ninguém entende? Não que traders fiquem muito atrás. Importa é: do que adianta ficar sabendo de uma crise às vésperas da mesma quando já não há mais o que se fazer nem tempo para planejamento algum? Precisamos de mais traders na grande mídia, os intérpretes do caos, e de menos economistas.

“É impressionante”, empolga-se Giba. “[O IFR dá a] contagem das ondas, dos ciclos, então a gente consegue visualizar momentos. Não sabe exatamente quando que vai ser essa realização, mas de um dia pro outro você já começa a ter aquela marcação de fechamento de fundo de uma semana abaixo da outra, quedas de 20% abaixo do topo também são muito representativas. Quem usa análise fundamentalista olha esses dados técnicos pra saber se estamos em região de bull market (mercado de alta), saindo pra bear market.”

São vários os indicadores, a bem da verdade, além do IFR (ou RSI). Bollinger Bands, MACD, OBV, stochastic, as ondas de Elliott, as próprias linhas de Fibonacci, os fractais, padrões quais um falling edge ou um rising edge. Afora a psicologia por trás do mercado, como bem ilustra meu meme favorito de todos os tempos, que me perdoem a nerdice:

No fim: ciclos e nada mais. E tudo, ao que parece, corroborando o que ZeroHedge resume como o começo de uma carnificina generalizada. Antes que algum boomer argumente “mas um personagem do Brad Pitt, sério?”, saiba que se trata de um dos mais respeitados traders da www, com treze anos de ciberativismo. Simplesmente preza pelo anonimato. “Somos todos Tyler Durden”, escrito num cartaz. De fato: não está sozinho. Longe disso. Durden fecha o artigo com aspas oficiais: “Casa Branca diz que os Estados Unidos [o mundo] precisam estar preparados para a longa e tortuosa estrada adiante”

Até O Globo foi rápido em admitir a “guerra financeira” que “volta a pôr em xeque sistema ancorado no dólar”. Não que o jornal seja vanguarda. A ponta do iceberg é que já estaria bem visível para quem se encontra no Titanic.

“Algo em torno de 30%. Sempre que o ‘consenso’ entre economistas vê 30% de chance de uma recessão nos EUA, a recessão geralmente dá as caras três ou cinco meses mais tarde. Quando dizem 50%, geralmente já estamos em uma.” É Ashraf Laidi, outro entre os Top10 traders nas redes, quem explica.

E foi Grace Blakeley quem, ainda em 2019, explicou o porquê do então iminente consenso: se, “superficialmente, não está claro o que explica essa nova onda de pessimismo”, por outro lado, “as coisas não são sempre o que parecem ser. A recuperação dos EUA vem sendo altamente instável e distribuída de forma desigual (...) Enquanto isso, a dívida corporativa já atingiu um nível recorde (45 por cento do PIB) e o mercado de ações ainda parece superfaturado.” O mundo não estaria preparado para o “próximo” crash, segundo ela. Estaria falando de 2020? Ou do seguinte, ainda por-vir?

Entre o petrodólar e o ouro negro eurasiático

“O absurdo depende tanto do homem quanto do mundo. Por ora, é o único laço entre os dois. Ele os adere um ao outro como só o ódio pode juntar os seres.” Ainda Camus.

As pedras já estavam muito bem cantadas quando, em abril de 2020, o preço do barril de petróleo rolou montanha abaixo rumo a valores, sim, negativos. Hoje, negociado acima dos US$ 100,00. Alguém, evidente, lucrou e segue lucrando bastante com a desgraça alheia. BlackRock, State Street e Vanguard, por exemplo.

Em 2017, o jornalista James Corbett, em entrevista concedida à organização da Open Mind Conference, na Dinamarca, traçou paralelos entre o período que antecedeu a Primeira Guerra Mundial e seus ecos nos dias de hoje. A ascensão de um novo poderio industrial-militar capaz de desafiar o poder em voga. Um conjunto de ações meticulosamente calculadas por um grupelho de pessoas a fim de manter o poder em mãos que acabaram criando um conflito de todo evitável. Relaciona tudo, evidente, à atual queda de braço entre China e EUA, entre Yuan e Dólar. Cita um exemplo prático: Rússia vendendo petróleo para China, cotado em Yuan e convertido em ouro, ouro este que Rússia vinha comprando havia um tempo já prevendo o “eclipse do Dólar enquanto reserva de valor mundial”.

Arábia Saudita também vem considerando substituir o Petrodólar pelo Yuan, segundo ZeroHedge. Outro que, por sinal, há muito, profetiza o caos. Desde a próxima crise de liquidez (aqui, valendo-se da previsão de Zoltan Poszar, que, faz pouco, “chocou” Wall Street) à consequente recessão – “senão depressão”. Índia já teria fechado acordo para comprar 3.5 milhões de barris da Rússia. Sob quais condições? Venda em Yuan? Rublo? Ouro? Bitcoin? Alguma outra suposição? Alguém?

O jornalista brasileiro Pepe Escobar, em artigo publicado na Strategic Culture Foundation, revela que “em 1º de fevereiro, três semanas antes do início da Operação Z, o Banco Central da Rússia detinha US$ 630,2 bilhões em reservas [em ouro]. Quase metade – US$ 311,2 bilhões – foi alocada em títulos estrangeiros e um quarto – US$ 151,9 bilhões – em depósitos em bancos comerciais e centrais estrangeiros”. Uma sinuca de bico, à primeira vista. Escobar prossegue: “Em junho do ano passado, o parceiro estratégico China detinha 13,8% das reservas da Rússia, em ouro e moeda estrangeira. Quanto ao ouro físico, US$ 132,2 bilhões – 21% das reservas totais – permanecem em cofres em Moscou (dois terços) e São Petersburgo (um terço)”. E arremata: “O principal problema é que mais de 75% das reservas do Banco Central Russo estão em moeda estrangeira. Metade delas são títulos, como títulos do governo: eles nunca saem da nação que os emitiu. Cerca de 25% das reservas estão vinculadas a bancos estrangeiros, principalmente privados, além do BIS e do FMI.” Caminho livre para um Rublo com lastro em ouro? Uma CBDC?

E ainda dizem que o ódio é gratuito, que a rebeldia é sem causa. Que o absurdo não existe nem tem razão de ser. “Sorria”. Enquanto isso, algum Christian Bale se prepara para embolsar uma fortuna em sua próxima grande aposta. O sonhado e literal Fuck You Money de quem, bem ou mal, consciente do processo, despreza juízos morais e acaba lucrando rios de dinheiro em meio ao lamaçal ladeira abaixo às custas da desgraça alheia. Nada garantido, evidente. Meras possibilidades, para variar.

Mas inflação para além do controle dos bancos centrais? Faz-me rir. Nem tanto à terra nem tanto ao mar, cara-pálida.

Assim como a meteorologia não é capaz de prever com exatidão os estragos de uma tempestade, também a análise técnica não é bola de cristal. “Prever que vai haver um crash não existe. Em análise técnica, tudo são probabilidades. O que a gente consegue visualizar bem, pelo menos nos gráficos de 2000 pra cá – em 2001, a gente teve a queda das Torres Gêmeas; em 2008, teve o crash financeiro, o ‘too big to fail’, que foram quedas fortes; essa última forte [de 2020] na faixa de 60% – é que são correções dentro do número de Fibonacci (61.8%). Então, assim, as grandes crises – a crise da China, a ordem de grandeza da queda dos índices, Dow Jones, SBI, até Ibovespa, se a gente for pegar algumas crises – rondam essa região de 60%. Acontecem, são cíclicas, mas não são comuns, são bem raras.”

E, conquanto Giba esteja corretíssimo em sua análise, sempre bom lembrar que o próximo valor na série numérica de Fibonacci seria 100%. “Já teve um minicrash na Rússia, a bolsa afundou 80%, mas aí não é uma queda normal de mercado, tiveram as sanções dos EUA e tudo”, considera Giba. Fato é: em algumas partes do mundo, a queda nas ações russas já chegou aos 100%, sim.

Quem está acostumado com o novo paradigma narrativo das blockchains, no entanto, sabe que uma queda de 80% é só mais um dia na rotina do mundinho crypto. Giba, afeito aos stonks tradicionais, por sua vez, mantém-se conservador.

“Hoje, a gente está vivendo um movimento de guerra que, quanto mais se estender, pior pode ficar. Vai gerar inflação, a gente sabe dos problemas de ordem econômica que podem começar a pipocar. Mas, pro mercado, toda vez que temos inflação, os preços acabam sendo corrigidos também. Então, num primeiro momento, a gente tem aquelas grandes quedas, 60% em média nas grandes crises, depois temos eventos de recuperações fantásticas, 200%, 700%, 1000%. Bolsa é isso. Quem opera a longo prazo aproveita as crises conforme a oportunidade. É saber que vai sofrer um pouco, sim, ou muito até, dependendo da duração dessa guerra, mas as crises passadas mostram que essas grandes crises geram oportunidades.”

Mesmo entendimento de Barry Ritholtz, quem aponta como as bolsas pouco caíram em períodos de guerra, logo se recuperando, em artigo publicado na Businessweek.

Brincando de Deus

Ok. O mercado pode se recuperar. Mas... e se cair mais, se continuar caindo? E se a guerra se estender por bem mais tempo do que imaginamos? Quais as consequências dessa “segunda OTAN”, por exemplo, a Tropa Militar de Intervenção formada por países da União Europeia? Qual será a narrativa? Na prática, já seria uma WW3. A Casa Branca, por sinal, reiterou na segunda-feira: o serviço de inteligência identificou uma ameaça de ciberataques contra infraestruturas cruciais dos EUA. Ao que parece, mesmo serviço de inteligência contratado por Klaus Schwab em 2020. Qual seria o papel da Rússia na trajetória rumo à tão propagada Quarta Revolução Industrial?

Para “aquém” das indagações e dos indicadores e padrões da análise técnica, há o método mais simples e, talvez por isso, mais clássico de todos para se “prever” o futuro: as boas e velhas trend lines. Foi Bill Clinton, num arroubo de honestidade, quem aconselhou: “Follow the trend lines, not the headlines”. Capisce?

Para melhor ilustrar, tomei a liberdade de traçar algumas linhas despretensiosas, no celular mesmo, com base em pesquisas pessoais realizadas entre 2017 e 2021, projetando cenários a partir da quebra ou não das tais tendências, uma tentativa de simular os dois lados da moeda ao longo da década. Mostrei a Gilberto, é claro, quis saber a opinião dele. Antes, os gráficos:

Espero que tenham sido ilustrativos o suficiente. O parecer de Giba: “Não seria nenhum absurdo” – e precisamente aqui me veio o estalo de Sísifo –, “são pullbacks (retrações) e correções bem nas linhas de tendência. Tudo é possível, não tem erro no que você fez. São especulações válidas, sim.” Especulações que, frutos do livre-arbítrio, tão somente tentam superar o destino com os meios necessários, conforme nos ensina William Baum, ao desprezar a rocha, a montanha, o castigo, os deuses, a consciência em si. Se inevitável a queda em seu determinismo, tão menos miserável a revolta desprovida de maiores esperanças contra o Olimpo – ou o Fórum Econômico Mundial, tanto faz.

“Sabemos que vão ter crises, mas crash... acho que não. 1929 já deu uma amostra, a partir daí começou a surgir uma análise técnica com mais força. Hoje, temos vários instrumentos de proteção financeira, mercado de opções, termos, mercados futuros pra fazer hedging, operações estruturadas, diversificação de investimentos. Os mercados estão cada vez mais eficientes, e a gente acaba encontrando alternativas pra não quebrar”, explica Giba. E o Brasil nessa? “Só realmente quem está de cara para o vento, um exportador que não tem proteção contra nada é que vai sofrer, um importador que tem títulos em dólar e não se proteger.”

Certo, Giba, mas e a ponta final? O povo? Como é que ficaria nessa? Com o Dólar indo para o saco, o Real se valorizaria? Eis a esperança de uma gasolina mais barata pelas plagas de cá?

“A crise do petróleo gera inflação e alta nas commodities, o que acaba sendo bom pros preços das ações no Brasil nesses setores, e são muitas. Já os juros altos aqui atraem o capital externo, acabou sendo bom pro Brasil, que teve o dólar caindo de quase R$ 6,00 pra perto de R$ 5,00 e teve seu índice de ações forte enquanto o mundo caiu. Mais pra frente é uma grande incógnita. Por ora, parece que por aqui cansou de subir e deve realizar nas próximas semanas.” Isso, ele disse na segunda semana de março. Hoje, fim do mês chegando, a cotação já está em R$ 4,91 – e caindo? Assim continuará? O que mais estaríamos ignorando, de frente para as sombras dos próximos seis meses?

ADENDO [25/03] O melhor e o pior dos mundos em ambos os cenários. O que não impediria o pior e pior dos mundos, veja bem. E aí, qual é o plano B? ADENDO [23/04] A linha roxa (base) vazou 5c mas segurou por ora. Estamos testando a resistência agora (também linha roxa, topo). Se passar de R$ 4.85...

Camus resume: “Esse mito só é trágico porque seu herói é consciente. O que seria sua pena se a esperança de triunfar o sustentasse a cada passo? O operário de hoje trabalha todos os dias de sua vida nas mesmas tarefas, e esse destino não é menos absurdo. Mas só é trágico nos raros momentos em que se torna consciente. Sísifo, proletário dos deuses, impotente e revoltado, conhece toda a extensão de sua miserável condição: pensa nela durante a descida. A clarividência que deveria ser o seu tormento consuma, ao mesmo tempo, sua vitória. Não há destino que não possa ser superado com o desprezo.”

A revolta como única resposta possível ao absurdo, à abdicação da vida. Há quem prefira o conforto da ignorância. Tão popular quanto “TA comes first”, outra máxima no CT é um tanto mais cruel para com os noobs: “Have fun staying poor”. Cruel como toda verdade, capaz. Casa bem com a profecia do WEF para 2030, que, a continuar nessa toada, acabará se cumprindo antes do previsto: “You’ll own nothing and you’ll be happy”. Todos sob o mesmo Black Hole Sun que insiste, alimentado pela esperança alheia, em nascer para poucos.


E o que Rosa Luxemburgo, Oscar Wilde, Maximilien Rubel, Guy Debord, Hakim Bey, os situacionistas todos, os Provos, os Beats, a fundação Wu Ming, a verruga do meu mindinho, o próprio Karl Marx têm a ver com isso? Quase tudo. Reviram-se no túmulo, inclusive. Pois, ao contrário do que alguns podem (contraditoriamente) julgar, o conceito de “libertário” não é “anarquista de direita”. Libertarianismo não se confunde com liberalismo nem que trocentos “anarcocapitalistas” queiram cooptar a ideologia. Mas esse é um tema que vamos tratar (bem a fundo) no mês que vem.

Por ora, basta dizer que: não. Pavel Durov não é um “anarquista de direita”. Libertário, sim. Moleque? Não há tempo para molecagens nem olhares 43 em tiranias como a de Putin, onde o Telegram e Durov se criaram. O que (não) há é liberdade de expressão. Há jornalistas que ainda entendem isso, a exemplo do extremista de direita Jorge Pontual (perdão pela ironia, tem meu máximo respeito) na ultradireitista GloboNews, ou dos mais novos membros da alt-right, Glenn Greenwald e Russell Brand.

Por ora, digo apenas: tomemos tento. Pois foi a molecagem de certas pessoas autodenominadas sérias que nos trouxe até aqui. Democracia ainda? Houve ou não houve golpe em 2016? Se houve, o ministro em voga foi ou não foi nomeado por um golpista? Se foi, a Lava Jato foi ou não foi extensão do golpe? E no que exatamente o abuso de autoridade (para dizer o mínimo) de Alexandre se diferencia do abuso de Moro? A contradição anda grande, a perspectiva muda a cada análise, o povo fica confuso. Talvez esse artigo que publiquei no Le Monde, em 2019, ajude. Uma certeza: os fins não justificam os meios, jamais, a menos que estejamos num regime fascista. Nada valida que o Marco Civil da Internet tenha sido jogado no lixo, quanto menos o Princípio da Proporcionalidade. E, ao que consta, o zapzap da tia do pastel ainda não vale como meio legal de citar as partes num processo. Durov foi citado pela imprensa brasileira. Precedente aberto com sucesso. Mais um.

Portanto: tento. Tomemos. Tentemos também. Pois não só por conta da molecagem. Da desonestidade intelectual de igual modo. Por insistir em misturar alho com bugalho no mesmo balaio, fazer do absurdo o principal valor. Abandonar o que antes fora propagado aos quatro ventos como virtude e ora volta para nos atormentar. Tema para o próximo mês.

Por ora: o Pequeno Príncipe explica. O Millennial de Saint-Exupéry.


Cansou de ler? Canse não. Ainda tem o gravíssimo Follow-up #1 de tudo o que publicamos no primeiro mês de vida. Memória curta, aqui, não se cria. Leia lá.

Aproveite e procure o 24º parágrafo dessa matéria no NY Times. Chocante, não? Não? Ainda há quem prefira a vergonha de insistir que o laptop de Hunter Biden não passa de fake news, teoria da conspiração. Adivinhe? Os disseminadores de desinformação éramos nós, imprensa. Dê o braço a torcer você também. Menos feio.

De resto, por falar em ouro… vamos abrir outra CPI ou será que já daria para Bolsonaro cair duma vez?

Por fim: assine aí embaixo para receber o newsletter. Na faixa, de graça, sem custo algum. Mas, caso queira colaborar, pode demais. Agradecemos desde já.

Ah: e resista... sim? Não? Muito bem.


[ADENDO] Hoje, 23 de março, faleceu Flávio Sidrim Nassar. Grande revolucionário, arquiteto e poeta paraense, um gigante. Um dos poucos que tiveram a honra de ser censurado pelo Desgoverno Bolsonaro. Obrigado pelos 22 anos de carinho e amizade.

Rest in power, u mofo.

Leia Flávio Nassar.

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